Lisboa tem um Tejo de ilusões
Tem casas de penhor e multidões,
Nas feiras, romarias, procissões
De rastos lentamente atrás das rosas
Gritando multidões silenciosas.
Lisboa é espelho de Lisboa,
Lisboa são seis letras proibidas
Um fado, uma guitarra, uma cantiga,
Um grito, um pregão, sete colinas
é virgem há mil anos e menina.
Lisboa tem o sol mistificado
Nas praças, nas vielas, avenidas,
Onde há sangue, onde há vidas
Tem santos muito antigos milagreiros
E o povo em promessa de joelhos.
Lisboa tem os santos populares
Tem cravos de papel e manjericos,
Carroças, autocarros e jericos,
Lisboa mais ou menos, menos mais
Museus, casas de passe, catedrais.
Lisboa é alegre labirinto,
Lisboa é Benfica, marinheiro,
Sporting e manhã de nevoeiro,
Uma gaivota podre milenar
O Tejo que protesta contra o mar.
Lisboa tem um Tejo de ilusões
Tem casas de penhor e multidões,
Nas feiras, romarias, procissões
Avançam lentamente atrás das rosas,
Gritando multidões silenciosas.
Reparem no pregão desta varina,
No fado em dó menor mas incompleto
Na ponte, no Castelo, no deserto,
Neste tremor de terra, cataclismo
Quiçá maremoto de autoclismo.